domingo, março 07, 2010

Uma sessão de Bootcamp Portugal


My Version of Exercise
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Tic, tac, tic, tac, domingo são 07:50. Acordo com o relógio a gritar:
– Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim – berra ele até eu o acalmar
– Está frio – avisa-me o meu corpo
– Sim, eu sei mas tens de te levantar, hoje há Bootcamp, vá upa diz a minha mente. Levanto-me.
– Bolas, está mesmo frio – queixa-se a mente – mas tem de ser, tem de ser.
Agora, no carro as mãos congelam e o stress aumenta, pois não quero chegar atrasado à aula, invariavelmente rodeada de árvores que pintam a paisagem de verde e castanho e pelos jogadores de futebol que ainda foram mais agraciados que eu, pelo frio matinal.
Quando estaciono o carro, já lá está o instrutor a preparar o terreno com pinos cor de laranja a destoar a relva verdejante e com a corda que eu tive o prazer de conhecer no primeiro treino.
Saio do carro e vejo mais um bootcamper: o Martins que já lá está desde o inicio, seguido do Martins Jr.
– Bom dia – diz o Tomé, e vê-se o Luís a chegar, mesmo à hora que o relógio silenciosamente diz serem 9:00 – vamos começar.
– Hoje, vamos correr?
– Não, hoje ficamos por aqui.
Gelados pelas baixas temperaturas que se fazem sentir dias antes do Carnaval, começa mais um treino de Bootcamp, no Parque Urbano do Jamor.

– Vá, mãos nos bolsos – mãos nos bolsos? Pergunto-me eu, afinal, isto hoje até está bonito – para a frente, e para trás – bom, isto hoje até começa calminho, muito calminho.
Tomé, é um dos instrutores de Bootcamp, o primeiro que conheci, e está actualmente no activo, na Marinha portuguesa. Já se dedicou à fotografia, sobretudo a focar insectos e já esteve em missão em Timor. Aqui nas aulas de Bootcamp, uma das marcas com que fiquei da primeira aula foi que ele gosta muito de dois números: o um e o sete. Não sabia é que ele gosta também de outros números como o zero mas, sobretudo ele aprecia é ouvir-nos contar, a contar a partir do zero claro. Nesta aula, estava eu prestes a descobrir por um lado, que por mais concentrado que o instrutor esteja, às vezes engana-se na contagem e volta ao início, por outro que ele também gosta de outros números como o um e o dois.
- Posição um, cá em cima, posição dois, posição da prancha, entendido?
De assobio na mão lá vamos nós alternando ao som do apito do um para o dois, do dois para o um mas o frio, esse amigo, continua à nossa volta a gelar os nossos tendões e, eu penso em cobertores e que sou louco. Não só eu mas também os meus colegas por largarmos a cama antes das nove da manhã, para nos virmos matar nesta modalidade, ainda recente em Portugal, instruída por activos das Forças Armadas portuguesas.

Suicídio é o próximo exercício: quatro pinos laranjas, a destoar o relvado verde, alinham-se espaçadamente à nossa frente, o parceiro da frente corre até ao primeiro, passa a vez, eu vou até ao segundo, ele até ao terceiro, eu até ao quarto e depois ele terceiro, eu segundo, ele primeiro. Troca. Agora a dianteira é minha – não que isto torne o suicídio mais fácil mas o frio, deixou de me atormentar e a história repete-se. De seguida fazemos o mesmo, em bicos de pé, mas ficamos do outro lado e, como prova de que aprendemos o exercício, fazemos o mesmo, repetindo ainda alternando com flexões, repetimos ao pé coxinho, com saltos de pés juntos – no qual o Martins Jr, parece uma gazela – e eu, enquanto espero pelo meu parceiro ponho a língua de fora. Sim, tal como os cães, na esperança que me ajude a aliviar o cansaço não que funcione mas está mais perto daquilo que o instrutor da semana passada disse sobre o Bootcamp: isto não é para ficar com a língua de fora, é para ficar sem ela!

Pensei eu que, porventura, já estaríamos a meio mas não, óbvio que não então a corda tinha cá vindo hoje fazer o quê? Se era para apanhar frio, mas valia ter ficado enrolada a descansar, como as cobras. Pegámos na corda, de braços esticados e agachamos uma vez, duas vezes, …, vinte vezes. Agora, ainda de braços esticados, levamos a corda para cima e para o centro. O número de vezes repete-se. De braços novamente esticados à nossa frente, o instrutor diz:
– Larguem a corda – e nós assim o fazemos, deixando os braços cair também – braços para cima, agachem um pouco, posição um. Posição dois, prancha, posição três, deitados no chão com as pernas dobradas e pescoço erguido.
Neste exercício, para além da alternância sobretudo entre a posição um e dois, o Tomé voltou a revelar a sua preferência pelo zero, que consistia em nos aproximarmos do chão e que por vezes, quando se enganava na contagem, voltava tudo ao inicio. O zero, neste exercício significava aproximação ao chão. Na posição da prancha resultava em flexões de braços, na posição um, em agachamentos. Isto posto assim, dá um ar muito misterioso à coisa, pois a contagem chegou a ser assim: zero, um dois, zero, zero, zero, um, zero e em algum ponto tornou-se numa contagem contínua.
A seguir a este, rentes à corda, a perna dobra lá à frente, a outra lá atrás.
– A de trás fica a quatro dedos do chão – aproxima-se o instrutor, coloca quatro dedos entre o chão e o meu joelho e eu vejo que estou a doze! O som do apito ecoa pelos nossos ouvidos e vamos alternando ora é a perna esquerda, ora a direita, com mais ou menos rapidez. Sim, é extenuante.
Quando este exercício acaba, reunimo-nos em círculo. O Tomé põe a corda às nossas costas e sugere 200 agachamentos em séries de vinte, contados por nós e lá começamos: zero, um, dois, três, …, vinte.
– Ok está bom. Faltam 180. Dez, nove, oito, sete, …, três, dois, um, recomeça.
– Zero, um, dois – contamos nós, até ao vinte.

Quando faltam duas séries de vinte, o Tomé, após ter andado à nossa volta a ver se estávamos a simular agachamentos ou fazê-los efectivamente, diz amigavelmente:
- Já só faltam duas séries, para acabar a primeira série de duzentos, são três.
É verdade, três vezes duzentos resultaram em seiscentos agachamentos, as séries de vinte cresceram para vinte e cinco e, as de vinte e cinco, para cinquenta. As pernas doeram, o suor na testa do Martins Jr, congelou e, no meu bigode, o suor parecia o orvalho que se forma na cutícula verdejante das folhas das plantas, que era para onde eu olhava para obter mais alguma energia para acabar os agachamentos.
A seguir, o treino estava prestes a terminar, seguiram-se uns alongamentos e um relaxamento, após os quais o Tomé olhou para o relógio e nos deu sete escassos segundos para trazer o material e nos informou que chegáramos cinco segundos depois. Essa eternidade, terminou em flexões, com as mãos e, também com os punhos.
– Se tiverem dores? Aguentem-se!

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